10/08/2012


            Organização e caos em um complexo, frágil e milagroso equilíbrio, entropia. Esta é a Terra, um sistema vivo, sem sobras e excedentes, formada por elementos, teias e conexões onde cada um, por menor que seja, possui uma função e importância para a formação de um todo maior e interdependente. A ruptura em certos padrões naturais, provocados por obras humanas, vem modificando as relações construídas a bilhões de anos, trazendo a tona novos problemas ambientais e ameaçando a própria existência do homem no planeta.

            Desde a sua origem o homem vem adaptando-se ao ambiente e utilizando e dominando os recursos advindos da natureza. Terra e homem: o que inicialmente era apenas uma relação de consumo para manter-se vivo passou a ser uma relação de submissão. A exploração dos recursos ambientais passou da necessidade para supérfluo, incentivada pelo ‘American way of live’, um estilo de vida baseado no consumismo exagerado e no crescimento econômico, na segregação e exploração de uns em detrimento do conforto e bem-estar de outros.

            Trazer discussões sobre a questão social e ambiental tendo como plano de fundo o desenrolar de um enredo maior, utilizando para isto um meio de comunicação de massa com foco no apelo, na linguagem, no olhar e na experiência – essa é o esboço utilizado no documentário “Lixo Extraordinário”. Meio ambiente, lixo e arte. Mais do que mostrar o cenário de degradação pura e simples, o documentário Lixo Extraordinário busca revelar histórias verdadeiras, de pessoas reais que tem no lixo a única chance de existir.  O aterro de Jardim Cramacho, o lixão que atendeu durante anos os municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro, é o plano de fundo para que o artista plástico Vik Muniz veja arte no descarte, oportunidade na miséria, sonhos na realidade.

            Histórias de vida ligadas pelo lixo.  Gente brasileira, cidadãos, que não apenas existem e esperam, mas pensam, organizam em busca de melhores condições de trabalho e vida. Valter, Tião, Isis, Irmã, Joãos, Marias, Josés, personagens reais que emprestam suas faces, seus sentimentos e suas falas para a arte de Vik. Os rostos marcados pelo sol, suor e dor, transformados em arte através do próprio lixo. Mosaico de cores, texturas e materiais unidos para transmitir emoções e expressões das mais variadas no público.

            E assim, o que ninguém observava, ou preferia não ver, agora é exposto e contemplado. O lixo ganha status quo de arte e as pessoas (catadores) ganham, momentaneamente, atenção, respeito. Daí, um problema crônico é revelado, não a questão do lixo por si só, mas a estrutura e o modelo econômico vigente, as desigualdades da sociedade brasileira e padrão de consumo insustentável que vivemos.

Problemas que não impendem os personagens reais de sonhar, agir, sorrir. A associação de catadores de resíduos sólidos de Gramacho é um dos exemplos, uma tentativa organizada de representar a classe junto à sociedade, diminuir o preconceito e trazer melhores condições de vida para aquelas estes profissionais. Um jovem catador e seu hábito de leitura, uma garota aos 18 anos mãe de dois filhos, uma senhora que retira do lixo o alimento para os catadores, numa espécie de copa onde é servido o almoço nos dias de trabalho. Uma cadeia produtiva gerada pelo o que não se quer mais.

O retrato imperfeito de uma sociedade segreda que através do olhar de Vik Muniz é divulgada para o mundo. E, neste caso, o final feliz que aponta o documentário é o início de uma nova vida e uma contribuição sumamente importante para aproximar ainda mais a questão ambiental do cotidiano das pessoas.

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